Desreguladores, disruptores e interferentes
endócrinos: tais expressões são sinônimos utilizados para caracterizar um
determinado grupo de micropoluentes (assim chamados por estarem presentes na biosfera em concentrações muito baixas).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Rio
de Janeiro (SBEM – RJ), eles são compostos químicos ou naturais presentes no
meio ambiente e capazes de interferir no sistema endócrino, causando diversas
alterações em nosso organismo.
Inúmeras
substâncias empregadas em nosso dia-a-dia podem contê-los, como sabonetes,
cosméticos, detergentes e alvejantes.
Cosméticos - fonte: http://conversademenina.files.wordpress.com |
Um desregulador endócrino que vem atraindo
atenção de pesquisadores em todo o mundo é o Bisfenol A (BPA). A substância
química é encontrada em produtos plásticos a base de policarbonatos (mamadeiras, copos infantis, garrafões retornáveis de 20 litros, recipientes
armazenadores de alimentos, luminárias, capacetes esportivos, entre outros) e em
artigos que contenham resinas epóxi.
Nesse caso, costumam ser empregadas como revestimentos em inúmeras aplicações
industriais e de consumo, como as embalagens metálicas de alimentos e bebidas.
Em 2010, foi lançada a Campanha Contra os Desreguladores
Endócrinos que tem como tema: “Diga não ao Bisfenol
A, a vida não tem plano B”. Esta foi uma iniciativa da SBEM-SP, a qual defendeu a proibição, no
Brasil, da presença da substância em
produtos infantis e em embalagens de alimentos. A campanha tem como objetivo informar a população sobre os desreguladores
endócrinos e, assim, estimular a evitar o contato.
Conforme
explicado pela Dra. Tania Bachega no vídeo da campanha, O Bisfenol A tem uma
atividade de hormônio feminino e, segundo demonstrado em pesquisas, está
associado ao desenvolvimento de doenças tais como obesidade, síndrome de
ovários policísticos em mulheres e infertilidade em homens.
No entanto, segundo o relatório
da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2011, foi observado que
para diversos desfechos analisados, o nível de exposição humana ao BPA é muito
inferior ao que provocaria os efeitos adversos. Além disso, estudos acerca da
toxicidade relacionada às atividades de desenvolvimento e reprodução
evidenciaram a ocorrência de efeitos negativos somente quando os indivíduos são
expostos a doses elevadas de BPA.
Outros
estudos mostraram associação de certos sintomas (desenvolvimento
neurológico específico ao sexo, ansiedade, mudanças pré-neoplásicas
nas glândulas mamárias e próstata de ratos, parâmetros visuais do esperma) com
doses mais baixas de BPA. Essas doses são próximas às estimadas de exposição
humana corrente ao BPA, de forma que a confirmação dos resultados dos ditos
estudos seria preocupante.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - SP |
Alguns estudiosos e organizações alegam que
as evidências de danos à saúde provocados pelo BPA ainda não são
significativas, enquanto outros afirmam justamente o contrário. Setores da
mídia se aproveitam do posicionamento destes últimos e exploram o tema de
maneira a espalhar caos entre a população e obter os lucros possíveis.
De qualquer modo, A ANVISA, por precaução,
baniu o Bisfenol A da composição de mamadeiras, proibindo a importação e a
fabricação das que o contenham, desde janeiro de 2012. No que diz respeito à
presença de BPA em outros artigos que entram em contato com alimentos, a legislação
determina o limite máximo de migração específica da substância para os mesmos,
de acordo com dados obtidos em análises toxicológicas.
Como os efeitos negativos do BPA ainda não
estão completamente esclarecidos, não há níveis seguros de exposição do mesmo e
de outros desreguladores endócrinos com o organismo.
O grupo de trabalho da SBEM-RJ deu algumas
orientações para auxiliar a população nesse sentido, as quais podem ser obtidas
no site da sociedade.
Com muitos produtos em cheque, uma
alternativa é o uso de panelas de vidro ou aço inox na cozinha. Outras medidas,
com base nos estudos, é evitar alimentos processados e produzidos com
agrotóxico e não usar recipientes plásticos para estocar água, principalmente
em congelador, nem para armazenar comida quente ou aquecê-la no micro-ondas.
Além disso, é recomendado não dar mordedores ou brinquedos de plástico macio
para crianças pequenas e dar preferência a plásticos livres de BPA e Ftalato.