quinta-feira, 11 de maio de 2017

“A água não é uma questão pura e simples de produção e distribuição, no fundo, tem a ver com saúde pública”, diz sindicalista da CEDAE.

Por William Cruz*

O Boletim do Meio Ambiente conversou com o trabalhador da CEDAE e sindicalista, Ary Gitota, sobre a crise hídrica crônica que a Baixada Fluminense passa e mais uma tentativa de privatização da CEDAE. Confira a entrevista!


Boletim do Meio Ambiente (BMA) - O que representa a privatização da CEDAE e de que maneira isso atinge a população?

Ary Girota (AG) – O processo de privatização da CEDAE não é algo pontual e local. Isso tem por detrás um projeto de privatização de todas as empresas de saneamento do Brasil. A CEDAE é uma empresa que entrega dividendos ao Estado do Rio de Janeiro. Ela concluiu várias obras para os Jogos Olímpicos de 2016 pegando dinheiro do seu próprio caixa, por imposição do governo estadual, e investindo nas obras. É muito simbólico privatizar uma empresa pública que gera lucro ao Estado. Imagina como será feito com aquelas que passam alguma dificuldade? A CEDAE é a maior empresa de saneamento do Brasil só perdendo para Sabesp, em São Paula, que já é privatizada por ter mais de 49% de suas ações na bolsa.

A água não é uma questão pura e simples de produção e distribuição, no fundo, tem a ver com saúde pública. Na lógica privatista, você não levará água as regiões carentes e os rincões mais afastados. Hoje, com a CEDAE pública, a empresa leva água de qualidade para 11 milhões de pessoas de qualquer lugar. Por isso, a importância de manter a CEDAE enquanto empresa pública.

BMA – A CEDAE é alvo de muitas reclamações da população. Quais mudanças deveriam ser feitas para a CEDAE resolver os seus problemas?

AG- Primeiro, é fundamental que a composição do Conselho da empresa deixasse de ser uma indicação do governo do Estado passando a ter representações dos trabalhadores da CEDAE e da sociedade civil. Segundo, que todo o lucro da empresa fosse revertido integralmente para a expansão da rede de abastecimento de água e de esgoto ao invés de ser repassado ao governo do Estado. Terceiro, é abertura de concurso público para adequar o efetivo as necessidades do Estado. Para se ter uma noção, na década de 90 tínhamos um efetivo de aproximadamente 11 mil trabalhadores, hoje somos 6 mil. Ou seja, as necessidades aumentaram e ocorreu a redução do número de trabalhadores. Ainda temos o avança da terceirização e o sucateamento do serviço público.

BMA – A Baixada Fluminense vive uma crise hídrica crônica com a ausência de abastecimento regular em grandes áreas. Como reverter esse quadro?

AG – Eu posso afirmar para vocês que a falta d’água na Baixada Fluminense é uma questão política. É um projeto. Na década de 90, teve uma tentativa de privatizar a CEDAE numa perspectiva de expansão dos serviços. Mas, não conseguiram. Naquele momento, no governo
do Marcelo Alencar, a CEDAE ainda possuía certo prestígio junto ao conjunto da população. Desde então, as obras de expansão e os planos de Despoluição da Baía de Guanabara, que não só deveria despoluir a Baia mas também contribuir para a universalização da água, não foram concretizados. Algumas estações de tratamento foram construídas mas sem a ligação com a rede. O dinheiro veio entrou pela porta, saiu pela janela e ninguém viu.

Só a participação popular garante o abastecimento de água na Baixada Fluminense. Sendo as prefeituras pressionadas para que elas pressionem o Estado e para que a CEDAE seja pressionada, já que ela deve obediência ao Estado. O dinheiro existe. Temos aí o financiamento do BNDS que oferta para as empresas privadas poderia ser usado pela CEDAE. A empresa possui tecnologia e profissionais capacitados. Basta, então, a vontade política.


*Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

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