sábado, 24 de março de 2012

A Hora da Esmola

No mês de Março ocorre a quarta edição brasileira da Hora do Planeta, um protesto promovido pela WWF junto à iniciativa privada, governos e sociedade civil. Em 2012 participam 37 cidades brasileiras, contribuindo através de “apagões” em monumentos: como O Cristo Redentor, Rio de Janeiro; Farol da Barra, Salvador.

 Apesar de toda agitação em volta desse ato simbólico, a Hora do Planeta, se tornou um instrumento de propaganda sustentável para empresas e governos; vendendo sua “imagem verde”. A comoção durante a campanha não é refletida nos gestos do cotidiano do setor governamental e empresarial; o reflexo da consciência demonstrada  perante nossas ações corriqueiras são irrelevantes. É como se crêssemos que o dinheiro dado ao pedinte na rua, resolvesse sua condição socioeconômica; ou que a doação de cestas básicas no fim do ano, erradicasse a fome das camadas mais carentes da população. Atitudes dessas somente “arrastam” os problemas, e não encontram soluções.

Caso, realmente, quiserem avançar com a discussão ambiental e busca de melhorias, o simbolismo será ineficiente. Necessitaríamos de políticas mais profundas na economia energética, que balanceie o consumo e disponibilidade de recursos naturais.

Texto por: William Cruz

segunda-feira, 19 de março de 2012

A conspiração da lâmpada

Fonte: Educação Ambiental Crítica

O documentário The Light Bulb Conspiracy (A conspiração da lâmpada) de Cosima Dannoritzer 2011, com o título em português de Comprar, jogar fora, comprar: A história da obsolescência programada, evidencia a prática da obsolescência programada como o motor da sociedade de consumo, onde desde os anos de 1920 fabricantes começaram a diminuir a vida útil dos produtos para aumentar as vendas.

Logo nas primeiras cenas é contada a história de uma lâmpada incandescente que funciona ininterruptamente desde 1901 (111 anos). No entanto, o documentário revela que em 1924 formou-se o primeiro cartel do mundo, visando o controle na fabricação de lâmpadas, com o objetivo de que estas se tornassem menos duráveis, para que as pessoas não deixassem de consumir periodicamente.

O documentário dá alguns exemplos da obsolescência programada, utilizada, para diminuir a vida útil de impressoras da marca Epson, que, por exemplo, quando chega a uma determinada quantidade de páginas impressas, deixa de imprimir. Outro exemplo é a Dupont que descobriu o nylon, no entanto, teve que tornar o material menos resistente e duradouro, para que continuasse havendo consumo. Além do caso das primeiras linhas do iPod, cuja bateria tinha a programação para durar aproximadamente 18 meses, incentivando a compra de outro aparelho por um novo.

O filme ainda mostra que a obsolescência programada surge quase ao mesmo tempo em que a produção em massa e a sociedade de consumo. Esse padrão iniciou-se desde a revolução industrial onde saiam das maquinas produtos mais baratos, portanto mais acessíveis, no entanto pouco duráveis.

O documentário cita a preocupação de algumas empresas, que já se destacam por utilizarem uma nova proposta de engenharia, onde se questiona a obsolescência programada como obsoleta, se reapropriando das ideias de produzirem bens mais duráveis.

Provavelmente, a solução para a sociedade de consumo de crescimento está longe de apenas, pequenas adaptações ditas mais ecológicas e sustentáveis, como muitas empresas tem proposto, e sim numa mudança mais radical: ao invés de um crescimento um decrescimento, uma verdadeira mudança de lógica, reduzindo o consumo e a produção.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Pintura verde

O que um produto precisa ter para ser considerado "verde"?

A procura dos consumidores por produtos que se apresentam como "ecologicamente corretos" vem crescendo nos últimos anos, principalmente com o aumento da preocupação do consumidor global em relação às questões ambientais que tem se agravado com o passar do tempo. 

Esta nova tendência “verde” do mercado também estimulou empresas a aproveitar o momento para associar seus produtos a atribuições ecoamigáveis duvidosas e oportunistas, sem critérios claros que respaldem suas pretensões ambientalistas, ou, ainda, através da apresentação de símbolos e apelos visuais que podem induzir o consumidor a conclusões erradas sobre o produto ou serviço que deseja comprar.Tais apelos são o que pode-se chamar de “Greenwashing” (maquiagem verde). E aí, como saber se está sendo enganado?

Divulgada no ano passado, a pesquisa ‘Grau de Consciência Verde dos Consumidores’, produzida pela consultoria Kantar Worldpanel, indicou que 36% dos brasileiros consultados não acreditam nas campanhas verdes das empresas. Na América Latina a pergunta ‘Quando uma empresa faz publicidade/comunicação de ações positivas para a sociedade e para o meio-ambiente você…’ foi respondida nos seguintes termos: ‘Não acredito’, 39%; ‘Acho difícil acreditar’, 35% (porque não vejo o resultado final), além de ‘Confio na mensagem e a valorizo’, 26%.

Outro dado do estudo aponta que 29% dos entrevistados declararam sequer saber da existência de empresas que realizem ações de sustentabilidade. Para transformar esse cenário, na opinião dos entrevistados, a responsabilidade de influenciar mudanças na questão ambiental é dos próprios brasileiros; 79% disseram que o poder está na mão da sociedade como um todo, 40% indicam os meios de comunicação como os maiores influenciadores e 39%, as instituições de educação. Esse descrédito no empresariado parece refletir os anos de irresponsabilidade socioambiental das organizações.

Como já mostramos aqui no blog, desde agosto de 2011 vigoram as novas regras do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) para normatizar peças de propaganda baseadas em apelos de sustentabilidade. A ideia é coibir a utilização do tema de forma banal a fim de não confundir os consumidores.

Confira no vídeo abaixo uma entrevista com o diretor do documentário “Greenwashers” mostra como o americano Bret Malley criou um personagem que ensina empresários e políticos a praticarem a “maquiagem verde”. 



sábado, 10 de março de 2012

Um post, uma imagem só (parte 1)




Realmente, uma invenção com tecnologia de ponta.

Imagem sugerida por Waldyr Junior, via Facebook.
Tem alguma dica de post? Nos envie! vocenojornal@gmail.com.br

quinta-feira, 8 de março de 2012

Código florestal: competitividade X ganâcia

Fonte: Envolverde (com adaptações)

O Código Florestal retorna à pauta da Câmara Federal (dia 13/03) e novamente se enfrentam argumentos em defesa da “produtividade” do setor agropecuário em contrapartida à necessidade defendida por cientistas e ambientalistas de se proteger pedaços de biomas naturais em propriedades agrícolas, conhecidos como Áreas de Preservação Permanente (APP) e Áreas de Reserva Legal (ARL).

Existe uma questão, entretanto, que foi pouco tratada neste tempo todo de discussão. Com a manutenção do Código Florestal Brasileiro de 1966 o agronegócio brasileiro perderá, de fato, sua competitividade? Podemos apresentar alguns números (já que a maioria só se importa mesmo com estes).

Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária o resultado das vendas do agronegócio de 2011 foi quase 25% maior do que em 2010 quando o setor do agronegócio despachou pelos portos do país 76,4 bilhões de dólares.

Em termos de área disponível, o Brasil conta com mais de 200 milhões de hectares de áreas que não se enquadram em nenhum tipo de restrição para uso agrícola, podendo chegar a quase 300 milhões, segundo o economista José Roberto Mendonça de Barros, e apenas 64 milhões de hectares estão sendo utilizados para a produção de 190 milhões de toneladas de grãos.

Todos esses números servem para mostrar que o setor do agronegócio, que atualmente é controlado por um punhado de empresas, não tem nenhum problema em se manter competitivo diante do mercado internacional, nem muito menos, o país sofre de algum problema na produção de alimentos que possa colocar em risco a segurança alimentar (além, da já conhecida má distribuição destes alimentos).

A aparente necessidade de maiores áreas de cultivo faz com que o agronegócio avance cada vez mais sobre as áreas de vegetação que deveriam estar protegidas. Ainda existe a ideia de que as florestas são improdutivas, e sem participação alguma na produtividade da propriedade. Outro ponto que deve ser apontado e que vem sendo lembrado por especialistas ambientais e cientistas é que o avanço do agronegócio sobre novas áreas resulta em mais demanda por infraestrutura, estradas e portos em regiões onde normalmente não seriam necessárias, principalmente porque não são demandas da população local. Um exemplo disso é o porto para o embarque de soja construído em Santarém, no Pará, cuja licença ambiental é até hoje objeto de dúvidas.

O projeto que altera o Código Florestal, e que será apreciado pelos deputados federais, foi construído à revelia da opinião e participação dos principais centros de pesquisa científica do Brasil, como as universidades e a Associação Brasileiro para o Progresso da Ciência. 

De qualquer forma, perde-se aqui a oportunidade de realmente mudar o código florestal para melhor, de forma à valorizar a exploração econômica da floresta "em pé", fazendo com que esta tenha valor para o produtor e para as populações tradicionais. 


segunda-feira, 5 de março de 2012

Idéias para as cidades brasileiras

Já falamos aqui no blog sobre o projeto Cidades para Pessoas, da jornalista Natália Garcia. Durante um ano a jornalista vai viajar por 12 cidades do mundo – e morar por um mês em cada uma delas em busca de boas ideias que tenham melhorado esses centros urbanos para quem mora neles.

O projeto já está na metade e várias cidades já foram visitadas; Copenhague (Dinamarca), Amsterdam (Holanda), Londres (Inglaterra), Paris (França), Estrasburgo (França), Friburgo (Alemanha) e Lyon (França). Assim, o projeto começa a apresentar seus primeiros resultados. .

Listamos então um resumo de algumas idéias levantadas pelo projeto sobre como tornar as cidades brasileiras mais agradáveis para se viver.

As decisões sobre o futuro da cidade precisam envolver participação popular.
Em Londres e Copenhague há canais on line da prefeitura em que os projetos do poder execuvito são expostos à opinião pública. As manifestações dos cidadãos não possuem poder de veto, mas um documento sobre a média das opiniões postadas nos sites são compiladas em um documento final, também publicado pela prefeitura e levados em conta na decisão final.

A cidade deve ser sinalizada para todos, para encorajar outras formas de locomoção além do carro.
Já percebeu como as sinalizações das cidades brasileiras servem, em sua esmagadora maioria, as pessoas que se locomovem de carro? Sinalização para outros modais é uma medida simples que poderia diminuir a dependência do carro e encorajar outras formas de locomoção pela cidade. Em Londres existem vários paineis mostrando um mapa da região, com as ruas em um raio de 1 quilômetro e a direção dos principais bairros da cidade, permitindo assim, que os pedestres possam se localizar. Também na capital inglesa, como em Copenhague e Paris, existem mapas nos pontos de ônibus e metro que orientam sobre como se locomover de transporte público pelas cidades.

É necessário um conselho de técnicos de áreas estratégicas ligado à prefeitura.
Em Londres há um conselho de técnicos em saúde, gestão dos rios, esgotos, habitação, mobilidade, entre outras áreas, que emite pareceres sobre projetos políticos que são levados em conta antes de sua execução. A presença de um conselho como esse é importante para evitar medidas “grotescas” como, por exemplo, a ampliação das pistas da marginal Tietê, em São Paulo, que impermeabilizou parte das bordas do rio e, mais uma vez, priorizou o transporte individual em detrimento do público.

Agricultura urbana ajuda a conter enchentes e abastece bairros com produtos orgânicos.
Cultivar alimentos em regiões próximas das grandes cidades (ou dentro delas) diminuiu o impacto negativo gerado pelo abastecimento de comida nesses centros urbanos. Se escolhidas bem, as áreas de agricultura urbana podem permeabilizar regiões estratégicas para ajudar a conter problemas de enchente e alagamento.

Nosso clima é quente. Precisamos de espaços públicos para aproveitá-lo.
Em Paris e Londres, por exemplo, as regiões nos bordos dos rios Tâmisa e Sena viram, durante o verão, “praias artificiais”, com bancos de areia, áreas para se banhar e atrações públicas e comerciais para que as pessoas simplesmente aproveitem o calor. No Brasil, o recurso do calor é abundante, mas se tornou um problema porque não temos espaços onde aproveitá-lo. É muito comum ouvir pessoas se queixando do “calor infernal” da cidade. Isso acontece porque ela está coberta de concreto e asfalto, o que inviabiliza o aproveitamento de climas mais quentes.

É preciso investir na rede de catadores de recicláveis e na gestão local de lixo.
Em São Paulo há um dado divulgado em 2010 pela ONG Nossa São Paulo de que, da coleta de lixo oficial, apenas 1% dos resíduos é reciclado. Esse dado, no entanto, não leva em conta as redes informais de catadores de recicláveis, que acabam sendo os grandes responsáveis pelo lixo que é reciclado na cidade. Temos que aprender a nos apropriar da lógica da informalidade, não tentar erradicá-la.

O uso dos carros precisa ser restringido ao máximo nos bairros centrais da cidade.
Quanto mais essas regiões foram percorridas à pé, de bicicleta ou transporte público, mais fácil será revitalizá-las – e mais interessante será a experiência de passar por elas ou permanecer nelas.

Bicicleta é um meio de transporte bom para a economia e a saúde da cidade e das pessoas.
Em Copenhague há uma equação com fatores como tempo de locomoção, necessidade de investimento em saúde pública e infra estrutura que mostra que bicicletas fazem a cidade ganhar dinheiro. Segundo essa equação, a cada quilômetro percorrido de bicicleta a cidade ganha o equivalente a R$ 0,70, enquanto que a cada quilômetro percorrido de carro a cidade perde R$ 0,30.

A cidade precisa do maior número possível de opções para se locomover.
“A boa cidade é a que tem o melhor número de opções para se locomover”, disse ao Cidades para Pessoas o planejador urbano Jeff Risom, do escritório dinamarquês Ghel Architects. “Em vez de pedir por ‘mais ciclovias’, ‘mais ruas para transitar de carro’ ou ‘mais metrô’ é preciso pedir por ‘mais opções”, explica ele. Quanto maior o número de opções menor a dependência dos carros (ou de qualquer outro modal) e mais interessantes ficam os deslocamentos pelos espaços públicos.

Isso não significa que as políticas que dão certo nestes países europeus, possam ser simplesmente importadas para o Brasil. Mas deveríamos nos inspirar nelas para construir idéias para um melhor planejamento urbano que se encaixem na nossa realidade. É importante também, tentar garantir que todos os espaços públicos sejam democráticos, e que as mudanças realizadas não sejam motivo para especulação imobiliária.

Para ver mais idéias, visite: Cidades Para Pessoas