segunda-feira, 5 de março de 2012

Idéias para as cidades brasileiras

Já falamos aqui no blog sobre o projeto Cidades para Pessoas, da jornalista Natália Garcia. Durante um ano a jornalista vai viajar por 12 cidades do mundo – e morar por um mês em cada uma delas em busca de boas ideias que tenham melhorado esses centros urbanos para quem mora neles.

O projeto já está na metade e várias cidades já foram visitadas; Copenhague (Dinamarca), Amsterdam (Holanda), Londres (Inglaterra), Paris (França), Estrasburgo (França), Friburgo (Alemanha) e Lyon (França). Assim, o projeto começa a apresentar seus primeiros resultados. .

Listamos então um resumo de algumas idéias levantadas pelo projeto sobre como tornar as cidades brasileiras mais agradáveis para se viver.

As decisões sobre o futuro da cidade precisam envolver participação popular.
Em Londres e Copenhague há canais on line da prefeitura em que os projetos do poder execuvito são expostos à opinião pública. As manifestações dos cidadãos não possuem poder de veto, mas um documento sobre a média das opiniões postadas nos sites são compiladas em um documento final, também publicado pela prefeitura e levados em conta na decisão final.

A cidade deve ser sinalizada para todos, para encorajar outras formas de locomoção além do carro.
Já percebeu como as sinalizações das cidades brasileiras servem, em sua esmagadora maioria, as pessoas que se locomovem de carro? Sinalização para outros modais é uma medida simples que poderia diminuir a dependência do carro e encorajar outras formas de locomoção pela cidade. Em Londres existem vários paineis mostrando um mapa da região, com as ruas em um raio de 1 quilômetro e a direção dos principais bairros da cidade, permitindo assim, que os pedestres possam se localizar. Também na capital inglesa, como em Copenhague e Paris, existem mapas nos pontos de ônibus e metro que orientam sobre como se locomover de transporte público pelas cidades.

É necessário um conselho de técnicos de áreas estratégicas ligado à prefeitura.
Em Londres há um conselho de técnicos em saúde, gestão dos rios, esgotos, habitação, mobilidade, entre outras áreas, que emite pareceres sobre projetos políticos que são levados em conta antes de sua execução. A presença de um conselho como esse é importante para evitar medidas “grotescas” como, por exemplo, a ampliação das pistas da marginal Tietê, em São Paulo, que impermeabilizou parte das bordas do rio e, mais uma vez, priorizou o transporte individual em detrimento do público.

Agricultura urbana ajuda a conter enchentes e abastece bairros com produtos orgânicos.
Cultivar alimentos em regiões próximas das grandes cidades (ou dentro delas) diminuiu o impacto negativo gerado pelo abastecimento de comida nesses centros urbanos. Se escolhidas bem, as áreas de agricultura urbana podem permeabilizar regiões estratégicas para ajudar a conter problemas de enchente e alagamento.

Nosso clima é quente. Precisamos de espaços públicos para aproveitá-lo.
Em Paris e Londres, por exemplo, as regiões nos bordos dos rios Tâmisa e Sena viram, durante o verão, “praias artificiais”, com bancos de areia, áreas para se banhar e atrações públicas e comerciais para que as pessoas simplesmente aproveitem o calor. No Brasil, o recurso do calor é abundante, mas se tornou um problema porque não temos espaços onde aproveitá-lo. É muito comum ouvir pessoas se queixando do “calor infernal” da cidade. Isso acontece porque ela está coberta de concreto e asfalto, o que inviabiliza o aproveitamento de climas mais quentes.

É preciso investir na rede de catadores de recicláveis e na gestão local de lixo.
Em São Paulo há um dado divulgado em 2010 pela ONG Nossa São Paulo de que, da coleta de lixo oficial, apenas 1% dos resíduos é reciclado. Esse dado, no entanto, não leva em conta as redes informais de catadores de recicláveis, que acabam sendo os grandes responsáveis pelo lixo que é reciclado na cidade. Temos que aprender a nos apropriar da lógica da informalidade, não tentar erradicá-la.

O uso dos carros precisa ser restringido ao máximo nos bairros centrais da cidade.
Quanto mais essas regiões foram percorridas à pé, de bicicleta ou transporte público, mais fácil será revitalizá-las – e mais interessante será a experiência de passar por elas ou permanecer nelas.

Bicicleta é um meio de transporte bom para a economia e a saúde da cidade e das pessoas.
Em Copenhague há uma equação com fatores como tempo de locomoção, necessidade de investimento em saúde pública e infra estrutura que mostra que bicicletas fazem a cidade ganhar dinheiro. Segundo essa equação, a cada quilômetro percorrido de bicicleta a cidade ganha o equivalente a R$ 0,70, enquanto que a cada quilômetro percorrido de carro a cidade perde R$ 0,30.

A cidade precisa do maior número possível de opções para se locomover.
“A boa cidade é a que tem o melhor número de opções para se locomover”, disse ao Cidades para Pessoas o planejador urbano Jeff Risom, do escritório dinamarquês Ghel Architects. “Em vez de pedir por ‘mais ciclovias’, ‘mais ruas para transitar de carro’ ou ‘mais metrô’ é preciso pedir por ‘mais opções”, explica ele. Quanto maior o número de opções menor a dependência dos carros (ou de qualquer outro modal) e mais interessantes ficam os deslocamentos pelos espaços públicos.

Isso não significa que as políticas que dão certo nestes países europeus, possam ser simplesmente importadas para o Brasil. Mas deveríamos nos inspirar nelas para construir idéias para um melhor planejamento urbano que se encaixem na nossa realidade. É importante também, tentar garantir que todos os espaços públicos sejam democráticos, e que as mudanças realizadas não sejam motivo para especulação imobiliária.

Para ver mais idéias, visite: Cidades Para Pessoas

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