Ao falar de mobilidade urbana, os primeiros pontos a serem
abordados costumam ser o estado dos meios de transporte coletivos (ônibus,
metrô, trem, barcas...), a existência (ou não) de ciclovias, a qualidade das
estradas. Mas, e as calçadas? Há muito que ser dito sobre a conservação deste espaço
comum para circulação de pessoas e convivência social. Além do mais, em tempos
de estímulo para que cada vez mais indivíduos deixem seus automóveis e caminhem
um pouco – ou muito – mais, é necessário que as calçadas sejam atrativas para
tanto, e não um empecilho.
No âmbito da Campanha Calçadas
do Brasil, da organização Mobilize Brasil, foi realizada uma avaliação das
calçadas de 228 locais contidas em 39 cidades do país. Notas de zero a dez
foram conferidas aos seguintes itens: irregularidades no piso; largura da
calçada (sendo que a mínima é de 1,20 m, conforme norma ABNT); presença de degraus
que comprometem a circulação; existência de obstáculos, como postes, telefones
públicos, lixeiras, bancas de ambulantes e de jornais, entulhos; iluminação
adequada da calçada; sinalização para pedestres; existência de rampas de
acessibilidade; paisagismo para proteção e conforto.
Estabeleceu-se 8,00 como a nota mínima para uma calçada de
qualidade aceitável. No entanto, a média final das 228 avaliações realizadas no
país é 3,40. Somente 6,57% dos locais avaliados obtiveram nota acima de 8,00,
enquanto 70,18% das localidades avaliadas contabilizaram médias abaixo de 5,00.
No estado do Rio de Janeiro, a média das notas conferidas às calçadas das 32
ruas avaliadas correspondeu a 1,99.
Cartaz da campanha “Calçadas do Brasil”.
Créditos: Divulgação
Buracos, desnivelamentos, iluminação inadequada, pisos
quebrados, falta de sinalização e a inexistência de rampas para acessibilidade são
apenas alguns dos problemas presentes em grande parte das calçadas brasileiras.
A reflexão acerca desta realidade suscita um questionamento sobre a essência do
espaço público: a quem ele se destina? Bom, até que se prove o contrário, o
espaço público destina-se às pessoas. Pessoas jovens, idosas, adultas,
crianças, gestantes, portadoras de necessidades especiais... Devem ser
oferecidas condições, portanto, para que todos possam partilhá-lo e desfrutá-lo
de maneira confortável, segura e convidativa.
Como exemplo de ação bem sucedida em prol da qualidade das
calçadas pode-se citar o programa Calçada Segura, o qual vem sendo implantado
pela prefeitura de São José dos Campos (SP) desde 2007 - e que, em 2010, tornou-se
a Lei da Calçada, n° 8077/2010. Por meio dessa iniciativa, são realizadas
recomendações e determinações a respeito dos materiais empregados na construção
das calçadas e da implantação das rampas para acesso de pedestre. Também são
abordadas questões como a calçada verde, calçadas em ruas inclinadas e
acessibilidade.
A baixa qualidade das calçadas implica na limitação da
capacidade do ser humano utilizar, eficientemente, seu principal meio de
transporte: o próprio organismo. Evidentemente, a luta pela preservação e
melhoria dessa parcela do espaço público deve estar inserida em qualquer pauta
relativa à mobilidade urbana.
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