Uma nova modalidade de coleta seletiva começa a crescer no
Brasil apontando novamente os olhos da sociedade para a destinação do lixo
urbano. A coleta seletiva solidária promete diminuir os impactos ao meio
ambiente, através da redução do montante de lixo disposto em aterros, e gerar a
inclusão social de catadores.
Essa
modalidade de coleta compreende na captação do lixo, separado previamente pelo
gerador, e no encaminhamento às cooperativas de catadores cadastradas pelo
Governo Federal. A promessa de inclusão social vem sob forma de fornecimento de
uniformes e materiais que melhorem as condições de trabalho e a organização
desta mão-de-obra em cooperativas.
Segundo
o Movimento Nacional dos
Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), existem hoje no país de
300 mil à 1 milhão de catadores. A maioria deles trabalham por conta própria
todos os dias e em condições precárias de trabalho. Aqueles que resolvem
participar de Cooperativas melhoram um pouco suas condições de trabalho, pois
passam a contar com um local (geralmente um galpão) para guardar suas carroças
e realizar a separação do que foi coletado. Além de poderem contar com
uniformes, materiais de segurança, banheiros e em alguns casos, refeitórios.
Mas a grande diferença pros cooperativados é o afastamento das condições
insalubres de trabalho, a garantia de renda e a exclusão da figura do
intermediário (que antes ficava com até 75% da renda obtida).
O
ciclo de sustentabilidade ideal seria, resumidamente: separação do lixo em sua fonte, coleta pelos
catadores cooperativados, separação e destinação correta dos resíduos, volta do
material reciclável à linha produtiva. Porém, o Governo Federal institui
algumas regras para que estas cooperativas possam coletar lixo público (ou com
o auxílio de órgãos públicos), o que dificulta a manutenção e o crescimento da
prática em outras regiões.
A
cooperativa é uma entidade feita pelos trabalhadores e para os trabalhadores,
sem nenhum “chefe” específico. Todos são igualmente importantes dentro desta
organização trabalhista. Portanto, começam sem grandes recursos financeiros e
como consequência não conseguem adquirir, inicialmente, caros maquinários que
facilitarão o trabalho dos profissionais. E é este o ponto nevrálgico do
sistema. O Estado insiste em exigir das Cooperativas cadastradas no Programa
“Coleta Seletiva Solidária” um tipo de organização que custa caro às
cooperativas.
A
principal exigência é a de um local amplo e de maquinário para que a
Cooperativa possa corresponder ao volume de lixo coletado dentro do Programa. Porém,
o Governo não facilita os financiamentos para cobrir os custos. Além de evitar
a doação de terrenos públicos a estas cooperativas, dando preferência às
empresas privadas. Então, como poderá a coleta seletiva solidária crescer e se
tornar uma prática eficiente, principalmente nas grandes cidades?
Fonte: |
Duas
possibilidades que reacendem a esperança destes trabalhadores começam a
aparecer devido às grandes críticas deferidas ao sistema: convênios diretos com
a comunidade do entorno da sede da cooperativa e o surgimento de um “mercado de
crédito” com recursos federais. No primeiro, temos a direta participação dos
catadores através da sensibilização da comunidade à qual eles pertencem através
de palestas, eventos e parcerias com o intuito de fazer com que a separação do
lixo seja uma prática diária e que, resultem no aumento da coleta destes
materiais recicláveis gerando aumento na renda e consequentes melhorias na
Cooperativa.
E
por fim, temos o surgimento de um programa de financiamento federal lançado
este mês como consequência da parceria entre o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis
(MNCR) e a Bolsa
de Valores Ambientais do Rio de Janeiro
(BVRio). O Governo Federal liberou 200 milhões de reais destinado a estas
“Bolsas Verdes”. Segundo Severino Lima, do MNCR, “Os recursos vão capacitar as
cooperativas para fazerem o caminho de venda para as indústrias, para a emissão
das notas fiscais e a negociação do certificado, alimentando o sistema da Bolsa
Verde”, diz. Até agora 20 cooperativas
já foram cadastradas e serão beneficiadas com o crédito ainda em Outubro.
Medidas como as citadas acima
são interdependentes e só mostram resultados de médio e longo prazo. O que fica
visível é a luta destes trabalhadores até então esquecidos, para conseguirem
uma vida digna através de um trabalho duro que, apesar de mitigador, é
beneficiador à sociedade como um todo.
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