quinta-feira, 26 de julho de 2012

As duas faces de Marina

Nesses últimos anos, a temática ambiental alcançou dimensões que proporcionou a novas camadas e grupos da sociedade a possibilidade de discutir esse tema. E, por consequência, surgiram novas acepções para meio ambiente, muitos incorporaram a seu ”bel-prazer” conceitos de outros setores (econômicos e financeiros). A cada avanço dado pela discussão ambiental, mais complicado se torna definir o que seria meio ambiente. Devido a essa “popularização” da discussão sobre o meio ambiente , o ativismo ambiental teve um crescimento pujante nesse decênio, pluralizando ainda mais o debate. Novos líderes emergiram do anonimato e antigos se consolidaram na militância, e, dentre eles, está o nome de Marina Silva.

Marina, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-petista, lançou sua candidatura presidencial em 2009 pelo Partido Verde (PV). Logo meio ambiente virou pauta dos debates eleitorais, tanto petistas quanto tucanos trataram de maquiar seus discursos de verde. Marina se destacou por sua plataforma de desenvolvimento sustentável, usando como arcabouço o comprometimento do setor empresarial de assumir a locomotiva do processo rumo à sustentabilidade.  Sua imagem passou a ser vinculada à militância “verde”, emergiu uma nova liderança política do ativismo ambiental. Mesmo alcançando 20 % nas urnas, assim entrando para a história do PV que nunca antes tinha conseguido um número tão expressivo numa candidatura à presidência, perdeu para sua ex – colega de partido, Dilma Roussef. Porém, permaneceu como expoente brasileiro emblemático na luta “verde” nas esferas, nacional e mundial.



Em contraponto ao seu discurso, Marina foi protagonista, ainda na frente da pasta que ministrou, da concessão das obras do Complexo do Rio Madeira. Fazem parte do projeto a construção de duas hidrelétricas, Santo Antônio e Jirau, no estado de Rondônia. A obra da Hidrelétrica de Santo Antônio foi iniciada no primeiro trimestre do ano corrente e possui orçamento de 15, 1 bilhões [1]. A barragem irá atingir três mil famílias, segundo dados do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), e inundará algumas áreas do Corredor Ecológico do Vale do Guaporé, um dos parques mais importantes da região [2]. As hidrelétricas constituem ainda um assunto delicado, visto que não há consenso quanto ao seu rótulo de energia renovável e limpa, pois, com a putrefação da matéria orgânica da área inundada (geralmente, folhas e húmus) em médio e longo prazo há uma grande emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa), dentre eles dióxido de carbono e metano. Outro problema gerado pela instalação da barragem é a acidificação das águas o que impossibilita sua reutilização para irrigação e prejudica o solo.

Apesar dos malefícios, o projeto do Complexo do Rio Madeiro já começou, com o argumento de beneficiamento de milhares de famílias e desenvolvimento do Brasil, chavão utilizado pelo governo federal e seus empreiteiros. Mas, na verdade, a energia gerada servirá ao plantio de soja, monocultura que devasta as florestas nativas. Será que a deputada Marina Silva estava ciente desses pontos quando concedeu a licença do empreendimento?  

Ovacionada na Cúpula dos Povos, em debate sobre a modificação do Código Florestal, Marina se divide entre duas faces: uma voltada ao marketing sustentável e outra ao neoliberalismo. Percebe-se que a amiga de Chico Mendes ainda é guiada pela lógica social-democrata-desenvolvimentista, agora tingida de “verde”. O “neodesenvolvimentismo” que sentencia o nosso país a ser um mero e eterno fornecedor de matéria prima - o mesmo papel que exerceu como colônia portuguesa -  condena à extinção de nossa biodiversidade, polui nossas águas e avilta nossas comunidades.  


[2] Artur de Souza Moret, Cartilha “Viva o Rio Madeira Vivo”, 2005. 

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