domingo, 10 de janeiro de 2010

As duas Caras da reciclagem





Durante esses dias que estive ausente do nosso blog, andei pensando em como está sendo discutida a questão da reciclagem em nosso país. Sem muito esforço, deu para perceber que o termo reciclagem é constantemente utilizada como sinônimo de coleta seletiva.

Na maioria das vezes, a escolha da reciclagem como método de gestão ambiental para a melhoria da qualidade ambiental, se justifica por diminuir a quantidade de resíduos que precisam de disposição final. Essa perspectiva é mais simbólica do que concreta porque na prática todo produto reciclado serve para sustentar o ciclo de produção incentivando, por uma armadilha, o consumismo autorizado.

No senso comum, a prática de “reciclar”, é feita sem a reflexão sobre os valores culturais e os modelos de produção e consumo por isso, reciclar é uma das alternativas para resolver o problema do lixo. São essas considerações que devem ser enfatizadas, pois, pode-se mesmo confeccionar 100 sofás de PET para cada habitante de uma localidade que ainda assim o problema do lixo não se resolverá.

Aliado a idéia de reciclagem no Brasil, está associada à coleta seletiva. Esses termos aparecem integrados e se confundem. Juntos eles desconstroem o verdadeiro conceito de cada um. Dessa forma, eles são propagados sem que sejam compreendidos corretamente pela sociedade. Há quem entenda a coleta seletiva como a separação de produtos assim como há quem entenda a coleta seletiva como a própria reciclagem.

A partir da definição correta desses termos, entende-se que reciclagem é um procedimento utilizado pela indústria para o reaproveitamento de matéria prima para a produção de novos produtos, e que a coleta seletiva é uma separação na origem, local onde o resíduo é gerado, para alimentar um sistema mais complexo, a reciclagem.

Fica evidente que a informação, é parte importante na indústria da reciclagem ao possibilitar a compreensão desses termos por todos aqueles que prestam serviços em cada uma das suas etapas. Aos catadores, que realizam de forma mais organizada a coleta seletiva bem como a segregação primária do lixo (nos lixões, na porta das casas e prédios...). Os catadores realizam esse trabalho como forma de subsistência, sem conhecer ou mesmo pensar na questão ambiental. Então esses catadores individuais ou organizados em cooperativas repassam os materiais então segregados ás empresas que os utilizam como matéria prima da reciclagem obtendo o maior retorno financeiro de todo o processo.

Apoiar esses profissionais, que na maior parte dos casos não possuem direitos legais, suprindo as suas necessidades básicas, é essencial, pois o processo de reciclagem funciona de acordo com a lei da oferta e da procura, os próprios catadores autônomos ao percorrem as ruas, procuram por produtos que tenham maior valor no mercado. Assim, se a oferta de materiais aumentar, o preço pago pelas empresas compradoras irá cair, o que irá aumentar a miséria dos catadores.

Discutir a parte técnica da questão do lixo, controlar os processos de coleta e comercializar os produtos, não é o suficiente, o lixo deve ser visto como uma questão de ordem sócio-cultural, e para isso basta dar uma olhada na quantidade de lixo encontrado nas ruas e nas praias da nossa cidade e avaliar a cultura do consumismo e questão de cada indivíduo pelos problemas coletivos. Não que toda sujeira espalhada seja culpa só da população. Mas a sensibilização da coletividade é uma proposta para a defesa da qualidade do meio ambiente.

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