domingo, 15 de janeiro de 2012

Os feios ameaçados

Abra alguns web sites de ONGs ambientalistas. O que você vê? Pandas, aves coloridas, borboletas, onças, lagartos e tartarugas. Viu algum padrão? Todos esses seres, fofos e simpáticos, são frequentemente o foco das campanhas de conservação de espécies.



Não é preciso pensar muito para perceber que uma campanha do tipo “salvem as lampréias!” (foto) , não faria muito sucesso.

De uma lista de 1318 espécies catalogadas pelo governo americano como “em risco de extinção”, apenas 9 foram extintas desde 1973. Além disso, das 15 espécies classificadas como “recuperadas” temos ursos, lobos, pelicanos. Por que isso acontece?

É possível que seja porque os animais simpáticos sejam mais estudados. A difícil escolha acerca de onde investir o esforço e o dinheiro destinado a preservação ambiental deve ser baseada em vários fatores como risco de extinção, probabilidade de recuperação da espécie,seu papel ecológico, dentre outros. Como dizer qual espécie é mais importante?

Em geral, as espécies ''simpáticas'' contribuem muito para os fundos desses programas de conservação, visto que as pessoas querem doar seu dinheiro para a preservação dos ursos, onças, pandas, arraras e não das lampréias. Seria a extinção do urso polar pior para o ecossistema do que a extinção de polinizadores, como as abelhas, por exemplo?

Este pensamento também é valido para outros seres vivos , como as bactérias, e outros microrganismos. Se os seres feios não recebem atenção, imaginem então os seres invisíveis?

Os microrganismos oxidadores de amônia, por exemplo, são responsáveis pela transformação de amônia em nitrito, passo fundamental da transformação do nitrogênio para uma forma utilizável pela maior parte dos seres vivos, tendo, portanto grande função ecológica. Será que algum dia veremos campanhas do tipo “ salvem as bactérias nitrificantes” ?

Visitem o blog do ecologista americano Nathan Yaussy, que aborda muito bem este tema.

Fonte: Discutindo Biologia

sábado, 7 de janeiro de 2012

Ruídos na comunicacao ambiental

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista.

Os ruídos na comunicação ambiental podem atrapalhar o entendimento sobre consumo, recursos naturais, superpopulação, amadurecimento pessoal ou sobre a neutralidade na informação.
Quando se faz a crítica ao consumismo, por exemplo, não é ao ato de consumir, em si. Não há nada de errado em consumir. É o que fazemos, do berço ao túmulo. O que se critica é o consumo irresponsável; o desperdício, que destrói recursos que poderiam estar sendo melhor distribuídos; a redução da vida humana às dimensões de produzir numa ponta para consumir na outra.

Quando se alerta sobre o fato dos recursos naturais serem limitados não significa que não haja recursos no Planeta suficiente para todos. Há, até de sobra. O que se critica é a pegada ecológica desigual, onde uns poucos pegam muito mais que a maioria, só possível por que existe desigualdade social e falta de cidadania consciente e participativa na luta por políticas públicas.Quando se alerta para nossa superpopulação de 7 bilhões de humanos, não quer dizer que o Planeta não possa suportar esse número ou ainda mais gente. O que se critica é o fato da população estar se multiplicando numa velocidade muito maior que a capacidade dos governos e dos mercados em prover a todos de infraestrutura e condições dignas de sobrevivência, produzindo perversa e mesmo deliberadamente uma exclusão social que permite a concentração de renda e poder de uma minoria.

Também é equivocado imaginar que o mundo melhor que se deseja depende primeiro da evolução pessoal e espiritual dos indivíduos. As pessoas não amadurecem ao mesmo tempo, por isso a mudança para a sustentabilidade requer cidadania crítica e participativa, mecanismos legais e estruturas democráticas que assegurem iguais direitos e oportunidades para todos, em vez de imaginar, como o profeta, que gentileza gera gentileza. Se gerasse, não haveriam tantos estelionatários e pessoas que se aproveitam da boa vontade dos outras para obter vantagens.

Finalmente, não devemos nos iludir com a idéia de neutralidade em comunicação. Informar é o ato de escolher que parte da verdade queremos iluminar e que parte deixaremos nas sombras. Logo, o observador interfere diretamente na observação ao comunicar sobre ela. Assim como existem comunicadores a serviço da sustentabilidade, existem comunicadores a serviço de poluidores e organizações que trabalham para garantir privilégios e controle político, social e ambiental, para aumentar seus lucros, doa a quem doer. Refugiam-se na idéia de que apenas realizam o seu trabalho profissional e cumprem ordens.

Existem pessoas e organizações que tiram vantagem da atual situação e não querem ver seus ganhos e privilégios diminuídos. Então, podem se aproveitar dos ruídos na comunicação ambiental para manterem a opinião pública na dúvida e desmobilizada. À medida que os ruídos são identificados e eliminados, a opinião pública deixará de ser um alvo tão fácil nas mãos dos aproveitadores.

Fonte: Ecoagência de notícias (NEJ)