quinta-feira, 11 de maio de 2017

SANEAMENTO EM PAUTA

William Cruz*

O Boletim do Meio Ambiente entrevistou Yoshiharu Saito, Gestor Ambiental e ex-membro do Comitê de Bacias do Guandu, a fim de traçar um panorama da atual situação do Saneamento Básico na região da Baixada Fluminense. Confira a entrevista!

Boletim do Meio Ambiente (BMA) – Qual é o atual panorama do saneamento básico na Baixada Fluminense?

Yoshiharu Saito (YS) – Primeiro ponto: saneamento zero! Qualquer outro índice eu acredito que seja muito fantasioso. Em 2013, ficou pronto um grande painel sobre saneamento na Baixada Fluminense e o que observamos é que olhando pelo macro, exceto algumas iniciativas muito pontuais, nada dos cinco eixos de saneamento (abastecimento, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, drenagem e dragagem) está sendo feito. Excetuam-se as iniciativas de tratamento de resíduos sólidos e um pouco de abastecimento de água.

BMA – Saneamento básico é usado como “moeda de troca”em todas as eleições. E nas últimas eleições municipais não foi diferente. Por que é tão difícil resolver os problemas de saneamento básico?

YS – Para responder essa pergunta, eu vou fragmentá-la em dois momentos: político e técnico. A técnica através da engenharia é capaz de resolver todos os problemas em saneamento.O grande problema que aparece quando fazemos uma discussão real sobre a situação do saneamento é que a técnica é refém da política. Embora tenhamos várias discussões sobre o uso de tecnologias, por fim, acabamos ficando reféns das vontades políticas. Enquanto não houver vontade política fica difícil resolver os problemas em saneamento.

BMA – Um dos grandes projetos que vendem como solucionador para o problema de abastecimento de água na Baixada Fluminense é o Guandu 2. Quais são as suas expectativas com esse projeto?

YS – Eu tenho muita esperança que esse projeto resolva algumas demandas da Baixada Fluminense. Mas eu vejo com estranheza a maneira com a qual a CEDAE vai retirar mais água do sistema Guandu, que já atingiu o limite da oferta. Já não dá mais para tirar um litro do Guandu sem afetar outras populações que dependem do Paraíba do Sul. A CEDAE diz que vai racionalizar a distribuição reduzindo as perdas das linhas. A estação do Guando trata 46m³/s, no seu limite, ou seja, não há como emitir mais nenhuma outorga. Então, como retirar mais água de um sistema no seu limite. Só para se ter uma ideia, a demanda reprimida da Baixada Fluminense está, em média, 22m³/s. Mesmo diante as medidas propostas como construções de novas estações, não tem outro manancial no Estado que não seja o Guandu. O Guandu é nosso. E ele vai abastecer o município do Rio enquanto a população da Baixada fica sem água. O Rio, por sua vez, nos presenteia com lixo que é destinado para o CTR Santa Rosa, em Itaguaí (localizado na divisa com Seropédica).

*Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

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